quarta-feira, 7 de maio de 2014

PROFECIA


LUAS DE SANGUE

Em meados do passado mês de Abril e durante três noites seguidas, assisti curioso na minha varanda, ao nascimento de uma lua-cheia diferente... Para além de enorme, esta lua nascia vermelha. Curioso como sou, decidi investigar e rapidamente descobri que, pese embora o fenómeno não tivesse sido visível em Portugal (a lua já se tinha posto) ocorreu no passado dia 15 de Abril um eclipse lunar que deixou a lua "vermelho sangue". Para além deste, entre 2014 e 2015 irão ocorrer mais três. O próximo terá lugar a 8 de Outubro, mas também não será visível em terras lusas.

Segundo informação da NASA, em menos de um ano e meio, a Lua irá voltar a ficar "ensanguentada" mais três vezes, todas elas em feriados judaicos, conforme sucedeu no passado 15 Abril, dia em que teve início o "Pêssach", que comemora a libertação do povo judeu da escravidão do Egipto.

Este fenómeno astronómico, conjunto de quatro eclipses totais da Lua, que ocorrem numa sequência de dois anos, é conhecido por "tétrade" e  deu já origem à publicação de vários livros, a maior parte deles citando uma passagem da Bíblia, onde é feita menção à Lua a transformar-se em sangue: “O sol converter-se-à em trevas, e a lua em sangue, antes do grande e terrível dia do Senhor“, Joel 2:31.

Há quem refira que também no Novo Testamento se pode ler idêntica profecia.

Entre as inúmeras publicações e as variadíssimas referências ao fenómeno na Internet, destaca-se a interpretação do pastor do Texas "John Hagee", cujo livro intitulado “Quatro Luas de Sangue: Alguma Coisa Vai Mudar“ tem estado no topo de vendas do The New York Times e do USA Today, para além de ter ficado durante 152 dias no top 100 de livros da Amazon. 

Este pastor, baseando-se nos factos já ocorridos no decurso de tétrades - em 1492 os Judeus foram expulsos de Espanha e Cristovão Colombo descobriu a América, dando-lhes assim um lugar para onde ir; em 1948 "nasceu" o estado de Israel e finalmente, em 1967, Israel venceu a "guerra dos seis dias", reconquistando a mítica Jerusalém - profetiza que "Israel vai entrar numa enorme batalha, denominada Armageddon, e que Jesus vai regressar à Terra". Segundo Hagee, "esta é a altura em que nos devemos começar a preparar para o fim do mundo como o conhecemos". 

Durante cerca de 300 anos, entre 1600 e 1900, não ocorreram tétrades.

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LUA ESCARLATE

A lua desperta no horizonte
Bocejando
Solta uma língua de fogo
Cobrindo a noite com saliva
Voluptuosamente espessa

Espreguiça-se
Soltando os braços
Luar quente no seio da alma
Derrete o gelo
Pálido desconsolo recolhido na rotina diurna

Porque não é de noite, sempre?!
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PROFECIA

“O aviso dos mortos chegou no clarão da madrugada!”
Todos se haviam refugiado nas Igrejas e aquele breu, que há dois dias não se levantava, deixara-se finalmente vencer pela contagiante luz da aurora.
Foi nesse momento peculiar que aquela estranha figura chegou à cidade. Era um ser deveras insólito. Possuía uma espécie de cauda feita de madeira, que utilizava como uma terceira perna. Deslocava-se de modo similar a um perneta com muletas, mas de mãos livres. Sempre que parava, era impressionante o seu equilíbrio e estabilidade – uma verdadeira “mesa de três pernas”.

Dadas as circunstâncias, este bizarro aparecimento foi de imediato imerso num contexto fantástico, sendo de pronto estabelecida pelas gentes uma ligação entre o que acabara de acontecer e a sua chegada.
Várias teorias foram aventadas, mas uma dentre estas acabou por se tornar dominante. Segundo a mesma, tratar-se-ia do fantasma do antigo coveiro e guarda do cemitério. Este havia morrido ao ser enterrado por acidente, após desmaiar de bêbado para dentro da cova que acabara de abrir, no decurso das cerimónias fúnebres de uma ilustre figura pública de Boa Esperança.

Ninguém soube explicar ao certo como a coisa ocorrera e porque motivo, após constatada a ausência do coveiro, ninguém se lembrou de olhar bem para dentro da cova, antes de começar a cobrir o caixão de terra. O facto é que vários dias depois, constatado o seu inexplicável desaparecimento, alguém finalmente sugeriu abrir a dita cova e lá encontraram o seu cadáver.
Este coveiro, para além de bêbado, era meio coxo e andava sempre apoiado numa velha bengala de madeira, que possuía uma pega larga e chata, onde ele muitas vezes encostava o traseiro para se apoiar, enquanto descansava e bebia um trago de “grogue”, por ele fabricado.

As mentes férteis de Boa Esperança conceberam então no seu imaginário, dada a semelhança de semblante e estatura, que o tal estranho seria a alma penada deste pobre coitado, regressada do purgatório para se vingar de todos nós, levando-nos um a um para dentro da cova, onde abrindo a tampa do caixão, nós empurraria “porta” adentro, rumo às entranhas do Inferno.
A presença daquela criatura assinalava assim, para todo o cidadão deste nosso lugarejo, a eminência do juízo final.

A verdade é que naquela madrugada e manhã, após dois dias inteiros feitos noite escura, as inquietações eram muitas e qualquer facto menos habitual, era susceptível de fazer germinar várias interpretações, todas elas contendo profecias do eminente fim dos tempos.
Apesar da intranquilidade latente, o dia acabou por decorrer sem sobressaltos e como é normal, quando o sol se pôs a dormir, chegou a noite.

O estranho, que andara desaparecido quase todo o dia, apareceu enfim novamente no bar das Almôndegas, onde costumo tomar café depois de jantar. Cravei-lhe aí, pela primeira vez, o meu olhar. Vestia uma camisola de gola alta vermelha, de malha, com uma enorme estrela branca no peito. As costas cobertas por um manto azul celeste, cujo tecido não pude identificar. Do tronco para baixo, presos à cintura por um pedaço de corda de amarra, uns corsários de fazenda vulgarucha, com riscas vermelhas verticais, sobre um fundo cinzento antracite.
Olhando para os seus pés, dir-se-ia ter subtraído os sapatos de Aladino. Não usava chapéu e era calvo à excepção de um pequeno tufo violeta no alto do cocuruto. As suas sobrancelhas pelo contrário, eram fartas e espessas, de um azul escuro semelhante ao dos seus olhos, que fazia lembrar a cor do mar em dias de tempestade. Possuía um rosto algo sóbrio, embora inexpressivo, pálido e de traços ligeiros, mas sereno, não deixando transparecer qualquer tipo de tensão, ou conflito interior.

Ao olhar ao meu redor, o barómetro de apreensão disparou o alarme, tal era a tensão latente nos rostos dos meus conterrâneos. Os lábios imóveis do estranho, haviam-se transformado no seu único horizonte. O rebanho fixava hipnotizado, o seu pastor, ansiando pela profecia.
Os corpos, transpirando desespero, aguardavam as palavras funestas que os fariam desfalecer, de joelhos quebrados ante o poder das trevas. As pessoas à minha volta, espelhavam a resignação de quem foi abandonado pelo destino.

Quando os seus lábios finalmente se moveram, soltando uma voz rouca com sotaque galego, todo o bar estremeceu… mas em vão. O estranho havia pedido um scotch!   
Quebrada a barreira do silêncio, os mais curiosos foram-se aproximando dele, até que o mais arguto resolveu questionar. O sujeito educadamente furtou-se à conversa, argumentando que estava já atrasado para um encontro. Num golpe, verteu o líquido goela abaixo e saiu porta fora, sem mais.

Toda esta cena se passou num segundo e os presentes nada mais puderam fazer, a não ser continuar a conjecturar sobre as possíveis ligações entre o que se havia passado dois dias atrás e a chegada deste sujeito fenomenal.
Entretanto, um após outro, os dias sucederam-se na azáfama da rotina, ocupando as mentes mais férteis com os afazeres do dia-a-dia, privando de alimento, a especulação e a quadrilhice.

Volvida uma semana, apenas algumas comadres falavam ainda do assunto, porquanto nada de mais importante lhes ocupava o raciocínio e a imaginação.
O estrangeiro tornara-se frequentador habitual do bar e acabara por ceder à tentação da conversa com os locais, embora a sua resposta às perguntas mais intrusivas fosse sempre a mesma – um ligeiro sorriso.

Envolvidos na teia das suas palavras, ouvíamos como uma agradável música de fundo, a filosofia de uma civilização alienígena, transferida de um universo paralelo, ínfima partícula de um cosmos desconhecido.
Apesar da sua voz rude e aparência grosseira, possuía um à vontade e uma elegância de gestos cativante, certamente alimentadas pelo adubo da intimidade com gentes e costumes diversos, desvendados os segredos que lhe permitem transportar a bagagem das estrelas, onde se encontra gravada a história das civilizações.

Mais alguns dias passaram, até que o viajante anunciou ser a sua última noite na cidade, ao pagar uma rodada a todos os presentes. Ninguém se atreveu a perguntar como iria ele embora, uma vez que sempre se havia escusado a esclarecer de que forma chegara.
Algum tempo após a sua partida, constatou-se que enquanto permaneceu entre nós, os animais estiveram estranhamente calmos sem qualquer alarido ou manifestação quezilenta. Já as crianças, exibiram um comportamento exemplar e um aproveitamento escolar extraordinário, enquanto os adultos esqueceram de forma inconsciente, as sua desavenças e problemas, sentindo-se plenos com a vida e relaxados na essência do ser.

Só após semanas de alguma turbulência, em que tudo voltou efectivamente, ao normal, alguns de nós se aperceberam dessa estranha coincidência.
Com o passar dos anos, vieram novos estrangeiros e ocorreram novos eventos insólitos em Boa Esperança. Hoje em dia já poucos falam no assunto.

Eu recordarei sempre. Embora esteja certa que, para o meu marido, esta criança é inequivocamente o seu filho, sempre que a observo adivinho nela a semente de algo mais que um simples homem.